terça-feira, 26 de junho de 2007

Le Corbusier e o Edifício-Viaduto

Em 1929, dirigindo-se à Buenos Aires, Le Corbusier teve rápida passagem pelo Rio de Janeiro, onde proferiu duas palestras, enquanto que em 1936 sua vinda foi motivada através de um convite do arquiteto Lúcio Costa, que objetivava tê-lo como consultor e colaborador em dois projetos encomendados pelo Governo Federal: o Ministério de Educação e Saúde e a Cidade Universitária.
Em 1929, tendo naquela ocasião suas principais preocupações voltadas a questão da cidade, Le Corbusier já havia desenvolvido algumas de suas propostas urbanas visionárias, como a uma Cidade Contemporânea para três milhões de habitantes (1922) e o Plan Voision para Paris (1925). É com este espírito favorável à grande escala, que acontece o encontro com a América do Sul no final da década de 20, Le Corbusier se vê surpreendido ao confrontar-se com a paisagem da cidade do Rio de Janeiro. A paisagem sul-americana de certa forma causa-lhe um impacto, determinando inclusive uma nova fase produtiva. Segundo alguns críticos: “foi a paisagem do Rio de Janeiro especificamente que maior destaque teve sobre ele”.
Le corbusier sempre foi uma observador atento da paisagem, parecendo buscar o próprio sentido da arquitetura, apesar do carácter racionalista que impregnava seu discurso e sua ação. O carácter da paisagem do Rio de Janeiro demonstrará ao celebre Le corbusier a necessidade de inflexão, devido a sua postura em favor de um racionalismo regulador.
Propondo uma edifício sinuoso, que suporta uma auto-estrada ao longo do território que conforma a cidade do Rio de Janeiro, o que Le Corbusier tem em mente é a possibilidade de todos os habitantes e usuários desta megaestrutura arquitetônica terem eternamente a paisagem da cidade diante de si.
Acompanhando as inflexões do mar e da montanha, o edifício sinuoso quer participar da paisagem, ao mesmo tempo que assume sua missão de permitir o desfrute da contemplação da paisagem “natural” do Rio de Janeiro.
A imagem do meandro dos rios - a lei dos meandros, descoberta por Le corbusier em sua primeira viagem à América do Sul, ao sobrevoar as áreas ruais- pode ser rebatido para a estrutura que conforma a fisionomia do edifício-viaduto. Sinuoso como os rios, que se deslocam horizontalmente ao longo do território e compõe uma paisagem específica, o edifício-viaduto transfere a lógica da água- energia que flui- pela dos automóveis – maquinas que se locomovem.
Apesar de seu objetivo ser o de desenvolver um plano urbanístico, em seus desenhos produzidos durante o processo de estudo, é possível perceber algumas características sobre os aspectos de Le Corbusier lançar seu olhar sobre a paisagem, praticamente desconsiderando a arquitetura da cidade, ignorando a paisagem urbana, atenta-se basicamente para o mar, as montanhas e as parcelas do território que se estende entre ambos. No caso do Rio de Janeiro, com suas particularidades morfológicas: o mar e as montanhas estão sempre presentes e são indissociáveis, definindo a imagem do lugar.
Justamente a favor de uma arquitetura à escala da paisagem se deve a ação corbusiana proposta para o Rio de Janeiro: o edifício-viaduto que, percorrendo a cidade com 100 metros de altura ao longo do litoral da cidade, poderia equilibrar a relação arquitetura-paisagem, a relação artifício-natureza.
O Rio de Janeiro que Le Corbusier representa em seus desenhos é reduzido à poucos elementos: os naturais, que tornam a cidade particular e a identificam, e a sua correspondência: o edifício-Viaduto. Uma única construção para resolver a questão da paisagem urbana do lugar, de modo a transformá-lo efetivamente em um lugar a “medida do homem” e voltado para o Futuro.

Fonte de Pesquisa:

TSIOMIS, Yannis. Le Corbusier: Rio de Janeiro 1929-1936, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998

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